Li recentemente, na revista do Público de 1 de Setembro de 2013, um artigo muito interessante que reflete sobre a instituição escola, o seu estado, e os seus prováveis caminhos.
Denominado " A escola que queremos ter", trata-se de um trabalho estimulante, com a intervenção de vários
especialistas e que, naturalmente, evidencia a complexidade deste universo.
Mas antes, gostava de deixar um brevíssimo contributo
assente numa perspectiva muito simples, na linha do que afirmava o Mestre João
dos Santos, "em educação, difícil é trabalhar de forma simples". Isto porque, para além da importância, que não pode ser
esquecida, dos modelos sociais, culturais, políticos, económicos, etc., que em cada
época envolvem a escola com consequências evidentes na sua organização e
funcionamento e de que o tempo atual nas nossas escolas é um preocupante
exemplo, tal como João Barroso, também entendo que tudo começa na sala de aula,
na relação entre professores e alunos.
Nesta perspectiva uma das questões formuladas nas entrevistas a alunos do ensino secundário no âmbito da minha tese de mestrado, perguntava o que era essa coisa de ser um bom professor.
A maioria dos jovens levou à identificação de uma resposta que se
poderia sintetizar na ideia de que "bom professor é o que fala com a gente
e explica bem".
Este entendimento lembrou-me, de novo, João dos
Santos quando afirmava que alguém tinha sido seu professor "porque foi seu
amigo".
De facto, o sucesso dos processos de ensinar e aprender assentam em dois eixos fundamentais, a qualidade do ensinar e a relação entre quem ensina e quem aprende. Do meu ponto de vista, a grande maioria dos professores estará equipada sobre o ensinar e disponível para diferentes abordagens metodológicas, considerando o ensinar. A grande questão é que a nossa escola, as nossas escolas, de uma forma geral, não facilita a relação. Esta dificuldade decorre, fundamentalmente, da organização dos tempos letivos, da natureza e extensão dos conteúdos curriculares das diferentes e muitas disciplinas, da crescente pressão para resultados tangíveis, a fé cega nos exames é um exemplo, o número crescente de alunos por turmas e do número de turmas lecionado por muitos professores, de um ensino demasiado assente no manual, etc. para além, naturalmente, das concepções de alguns professores.
Os professores, muitos professores, sentem-se "escravos" do programa que tem de ser dado e do pouco tempo disponível para construção da relação que na verdade se torna muito difícil.
Muitas vezes digo que os professores
"falam" para o programa, para o explicar, e os alunos
"falam" para o programa para o aprender. Não falam entre si sendo
que, além disso, existe um grupo significativo de alunos que, por diversas
razões como dificuldades ou desmotivação, não conseguem "falar" com o
programa. Para estes, os professores vêem-se obrigados a falar, sobretudo para
controlar os seus (maus) comportamentos.
Neste contexto as escolas continuam a não conseguir acomodar a diversidade entre os alunos e contextos o que potencia o risco de exclusão e insucesso.
Por este conjunto de razões e deixando de lado os
essenciais aspectos relativos aos modelos de organização, gestão e
funcionamento das escolas, continuo a entender como necessária uma mudança mais
significativa na organização dos tempos da escola e dos conteúdos curriculares
que tornassem mais fácil podermos ouvir os miúdos dizer, "a gente tem bons
professores porque explicam bem e falam com a gente".
Esta era a escola que eu queria.Uma escola que invista no desenvolvimento das pessoas, na sua autonomia, na sua capacidade de aprender a aprender, de aprender a fazer, de aprender a estar com os outros, a trabalhar em equipa, que forme cidadãos ativos, esclarecidos e socialmente intervenientes.
Esta ideia não tem nada de romântico nem de
utópico, assenta em algo de muito simples, a educação constrói-se com a relação
que se alimenta com a comunicação.