segunda-feira, 2 de julho de 2018

UMA ANÁLISE PROSPETIVA SOBRE A ESCOLA

O diagnóstico sobre a a situação atual da escola não é muito positivo e pode ser sintetizado em três aspetos:
- a escola, na configuração histórica que conhecemos (baseada num saber cumulativo e revelado;
- a escola obsoleta, que padece de um deficit de sentido para os que nela trabalham;
- a escola que é marcada, ainda, por um deficit de legitimidade social, na medida em que faz o contrário do que diz (reproduz e acentua desigualdades, fabrica exclusão relativa).

Não é possível adivinhar, nem prever, o futuro da escola, mas é possível problematizá-lo. Isto é, é desejável agir estrategicamente, no presente, para que o futuro possa ser o resultado de uma escolha, e não a consequência de um destino. É neste entendimento que pode ser fecundo, e pertinente, imaginar uma "outra" escola a partir de uma crítica ao que existe.

É na escola que reside a grande oportunidade de transformação do País, nomeadamente ao nível da formação de gerações de mentes ágeis, essenciais para a mudança. Isto porque, só os verdadeiros criativos e com capacidade crítica poderão compreender as sociedades atuais.

Para mudar, o país precisa de uma sociedade civil forte, de pessoas que valorizem a experiência e isso, corroborando com António Damásio, só aprendemos quando experimentamos emocionalmente uma coisa.
Assim, a construção da escola do futuro deverá orientar-se por três finalidades fundamentais:
1.ª- construir uma escola onde se aprenda pelo trabalho e não para o trabalho, contrariando a subordinação funcional da educação escolar à racionalidade económica vigente.
2.ª fazer da escola um sítio onde se desenvolva e estimule o gosto pelo ato intelectual de aprender, cuja importância decorrerá do seu valor de uso para "ler" e intervir no mundo e não nos benefícios materiais ou simbólicos que promete no futuro.
3.ª transformar a escola num sítio em que se ganha gosto pela cidadania, onde se vive a democracia e se aprende a ser intolerante com as injustiças e a exercer o direito à palavra, usando-a para pensar o mundo e nele intervir.
Neste sentido, é necessário agir em três planos distintos:
Por um lado, é necessário pensar a escola a partir do não escolar. A experiência mostra que a escola é muito dificilmente modificável, a partir da sua própria lógica. A maior parte das aprendizagens significativas realiza-se fora da escola, de modo informal, e será fecundo que a escola possa ser contaminada por essas práticas educativas que, hoje, nos aparecem como portadoras de futuro.
Por outro lado, é preciso caminhar no sentido de desalienar o trabalho escolar, favorecendo o seu exercício como uma "expressão de si", quer dizer, como uma obra, o que permitirá passar do enfado ao prazer.
Por último, é imperioso pensar a escola a partir de um projeto de sociedade, com base numa ideia do que queremos que sejam a vida e o devir coletivos. Não será possível uma escola que promova a realização da pessoa humana, livre de tiranias e de exploração, numa sociedade baseada em valores e pressupostos que sejam o seu oposto.
 
A escola erigiu, historicamente, como requisito, prévio da aprendizagem, a transformação das crianças e dos jovens em alunos. Construir a escola do futuro supõe a adoção do procedimento inverso: transformar os alunos em pessoas. Só nessas condições a escola poderá assumir-se, para todos, como um lugar de hospitalidade.