terça-feira, 28 de junho de 2011

O programa do XIX Governo (PSD/CDS) para a Educação...e não só

A publicação do programa do Governo, no que respeita à Educação (ver páginas 109 a 117) leva-me a enfatizar alguns pontos que me parecem preocupantes e, consequentemente poderão contribuir, negativamente, para qualidade da escola pública.

Assim, entre outros, há uma (demasiada) preocupação com a existência de mais exames, mais disciplina, mais exigência, mas não adianta qualquer sugestão quanto à atitude a tomar face aos alunos com dificuldades e maus resultados. 

Esta posição leva-me a pensar que há um desconhecimento...ou será desvalorização?????da complexidade da escola actual. Atrever-me-ia a dizer que é um programa demasiado "racional", ao gosto do actual responsável pelo Ministério da Educação.

Esperemos para ver..............

terça-feira, 14 de junho de 2011

As pessoas não nascem com uma vocação, constroem-na

Durante décadas privilegiámos a estabilidade nas escolhas profissionais. Hoje, mais do que nunca, sabemos que o desenvolvimento vocacional é um processo contínuo e, que a nossa criatividade e os nossos potenciais podem ser descobertos, trabalhados e melhorados em qualquer momento da nossa  vida.

As grandes mudanças económicas e sociais ocorridas nos últimos anos, (com consequências ao nível da imprevisibilidade e incerteza no quotidiano das nossas vidas), transformaram-nos e obrigam-nos a encarar novas formas de vida, que nos permitem adaptar a uma realidade plena de desafios nunca antes imaginados. Desafios, que surgem de todos os lados e cruzam todas as áreas da nossa vida, desde a familiar e profissional até à  relacional e ao próprio desenvolvimento pessoal.

Neste entendimento, cabe-nos lançar a mão a novas ferramentas que favoreçam a nossa evolução pessoal e nos prepare  melhor para a adaptação ao tempo em que vivemos, permitindo-nos, ainda, descobrir e aperfeiçoar novas competências, muitas das quais não sonhávamos ter.

Enquanto sintoma de crise, a instabilidade tem a vantagem de nos obrigar a ir mais fundo na procura e desenvolvimento dos nossos recursos, de maneira a usá-los melhor e o mais plenamente possível para podermos ultrapassar obstáculos. Se este princípio se aplica em todas as épocas e nas situações mais variadas da nossa vida, neste momento, em concreto, não pode ser mais verdadeiro e oportuno.

Esta necessidade de nos ultrapassarmos traduz-se, numa procura de aprofundamento do nosso auto conhecimento. Só este,  permite ter uma consciência mais alargada das nossas competências e lacunas, torna mais claros os nossos interesses e dá a conhecer desejos e motivações que, consequentemente, nos poderá levar a  fazer melhor(es) escolha(s).

Todos temos uma diversidade de recursos dentro de nós, um imenso potencial criativo, possível de ser revelado nas mais variadas formas de expressão e desenvolvido em diferentes graus, dependendo de uma série de factores e condições.Destacando, entre outras, uma multiplicidade de experiências, segurança afectiva, aceitação e liberdade de expressão de sentimentos dentro da família. No entanto, a interacção fora da família, na escola, junto de amigos e de todos os que fazem parte da nossa rede relacional é igualmente fundamental. Todos contribuem, à sua maneira, para a formação de todos nós, quer pela troca de informação,quer pelas experiências e  pelos estímulos que oferecem. Escusado será dizer que o meio cultural que vivemos, a qualidade de ensino na escola e os métodos de aprendizagem nele utilizados, bem como as oportunidades sociais e económicas,  são essenciais para a orientação do seu desenvolvimento.

Deste modo a orientação vocacional, como a entendo e pratico, através de uma perspectiva psicológica que dá prioridade à relação entre o sujeito e o mundo- a perspectiva Construtivista, Desenvolvimental e Ecológica, permite a integração das várias dimensões do exercício psicológico que interferem no processo vocacional. As pessoas não nascem com uma vocação, constroem-na. Nessa construção estão envolvidos diversos factores ( interesses e valores pessoais, influências parentais ou dos pares, etc.).
Assim, nesta perspectiva, a orientação vocacional, mais do que dizer às pessoas que têm mais jeito para  isto, ou para aquilo, trabalha o auto-conhecimento e promove a autonomia. Desta forma, capacita-as  para tomar decisões sempre que for necessário(indo para além do domínio escolar e profissional), e não se circunscrevendo, apenas, a momentos de crise.

Desta intervenção, e do bom uso que dela fazemos, decorre, naturalmente, maiores níveis de satisfação e de auto-estima, que nos dão confiança e motivação para ir mais longe, querer saber mais e aperfeiçoar talentos e saberes, muitos dos quais não sonhávamos ter.

De todo este processo sai a ganhar o nosso desenvolvimento pessoal, que nos torna mais completos e satisfeitos e nos faz sentir mais inteiros em tudo o que fazemos.Uma conquista que, a ser concretizada, contribui para a diminuição do  número de pessoas que, nas empresas e outras organizações, apenas aí estão de "meio corpo" e não de "corpo inteiro".Funcionam mas não vivem....

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Não são "doutores" como os professores, nem têm "estudos" como os alunos....

Todos os anos chegam notícias que, de forma negativa, marcam o arranque de um novo ano lectivo. Neste contexto, importa referir a grande quantidade de escolas e agrupamentos que se confrontam com as consequências resultantes da falta de pessoal não docente, nomeadamente de assistentes operacionais (antigamente conhecidos por auxiliares de acção educativa).Este facto, com consequências na desumanização da escola pública, é  fruto de uma política de vários governos, que vêm deixando de encarar estes elementos da comunidade escolar como recursos humanos que, ainda que não directamente  implicados no processo educativo em si, constituem um factor indispensável ao sucesso deste, seja no âmbito da organização e funcionamento das escolas, seja no apoio à função educativa. Ainda mais, quando estes mesmos governantes e responsáveis pelo Ministério da Educação, centram, nos seus discursos, a importância que todos os profissionais da educação têm  no processo de construção de uma escola de qualidade.
Integrados no pessoal não docente, os assistentes operacionais são os que mais vêm negado o seu verdadeiro papel na relação com os restantes elementos da comunidade escolar, levando à sua estigmatização e desvalorização. Facto bem presente na forma precária e de mero desenrasque com que os vão substituindo, seja através de contratos a tempo parcial de 2 a 4 horas, seja por utilização de trabalhadores desempregados, sem qualquer preparação prévia ou formação adequada. Desta forma, desvirtua-se a verdadeira missão destes trabalhadores e trabalhadoras que, não sendo "doutores", como os professores, nem tendo "estudos", como os alunos , têm cada vez mais um papel crucial no processo educativo.
São eles que, na escola,  ouvem as confidências do aluno isolado, que não tem amigos e não tem mais ninguém com quem falar; que escutam o/a professor(a) "desanimado(a)" com a escola; que limpam a escola à pressa quando há visitas ministeriais ou inspecções; etc.

Não apenas por isto, mas também, torna-se premente um maior investimento na humanização da escola. Para isso é importante contrariar algumas das medidas tomadas por algumas escolas, em nome da segurança, como a instalação de câmaras de vigilância, entre outras , que acabam por desvalorizar o papel destes trabalhadores.