terça-feira, 14 de junho de 2011

As pessoas não nascem com uma vocação, constroem-na

Durante décadas privilegiámos a estabilidade nas escolhas profissionais. Hoje, mais do que nunca, sabemos que o desenvolvimento vocacional é um processo contínuo e, que a nossa criatividade e os nossos potenciais podem ser descobertos, trabalhados e melhorados em qualquer momento da nossa  vida.

As grandes mudanças económicas e sociais ocorridas nos últimos anos, (com consequências ao nível da imprevisibilidade e incerteza no quotidiano das nossas vidas), transformaram-nos e obrigam-nos a encarar novas formas de vida, que nos permitem adaptar a uma realidade plena de desafios nunca antes imaginados. Desafios, que surgem de todos os lados e cruzam todas as áreas da nossa vida, desde a familiar e profissional até à  relacional e ao próprio desenvolvimento pessoal.

Neste entendimento, cabe-nos lançar a mão a novas ferramentas que favoreçam a nossa evolução pessoal e nos prepare  melhor para a adaptação ao tempo em que vivemos, permitindo-nos, ainda, descobrir e aperfeiçoar novas competências, muitas das quais não sonhávamos ter.

Enquanto sintoma de crise, a instabilidade tem a vantagem de nos obrigar a ir mais fundo na procura e desenvolvimento dos nossos recursos, de maneira a usá-los melhor e o mais plenamente possível para podermos ultrapassar obstáculos. Se este princípio se aplica em todas as épocas e nas situações mais variadas da nossa vida, neste momento, em concreto, não pode ser mais verdadeiro e oportuno.

Esta necessidade de nos ultrapassarmos traduz-se, numa procura de aprofundamento do nosso auto conhecimento. Só este,  permite ter uma consciência mais alargada das nossas competências e lacunas, torna mais claros os nossos interesses e dá a conhecer desejos e motivações que, consequentemente, nos poderá levar a  fazer melhor(es) escolha(s).

Todos temos uma diversidade de recursos dentro de nós, um imenso potencial criativo, possível de ser revelado nas mais variadas formas de expressão e desenvolvido em diferentes graus, dependendo de uma série de factores e condições.Destacando, entre outras, uma multiplicidade de experiências, segurança afectiva, aceitação e liberdade de expressão de sentimentos dentro da família. No entanto, a interacção fora da família, na escola, junto de amigos e de todos os que fazem parte da nossa rede relacional é igualmente fundamental. Todos contribuem, à sua maneira, para a formação de todos nós, quer pela troca de informação,quer pelas experiências e  pelos estímulos que oferecem. Escusado será dizer que o meio cultural que vivemos, a qualidade de ensino na escola e os métodos de aprendizagem nele utilizados, bem como as oportunidades sociais e económicas,  são essenciais para a orientação do seu desenvolvimento.

Deste modo a orientação vocacional, como a entendo e pratico, através de uma perspectiva psicológica que dá prioridade à relação entre o sujeito e o mundo- a perspectiva Construtivista, Desenvolvimental e Ecológica, permite a integração das várias dimensões do exercício psicológico que interferem no processo vocacional. As pessoas não nascem com uma vocação, constroem-na. Nessa construção estão envolvidos diversos factores ( interesses e valores pessoais, influências parentais ou dos pares, etc.).
Assim, nesta perspectiva, a orientação vocacional, mais do que dizer às pessoas que têm mais jeito para  isto, ou para aquilo, trabalha o auto-conhecimento e promove a autonomia. Desta forma, capacita-as  para tomar decisões sempre que for necessário(indo para além do domínio escolar e profissional), e não se circunscrevendo, apenas, a momentos de crise.

Desta intervenção, e do bom uso que dela fazemos, decorre, naturalmente, maiores níveis de satisfação e de auto-estima, que nos dão confiança e motivação para ir mais longe, querer saber mais e aperfeiçoar talentos e saberes, muitos dos quais não sonhávamos ter.

De todo este processo sai a ganhar o nosso desenvolvimento pessoal, que nos torna mais completos e satisfeitos e nos faz sentir mais inteiros em tudo o que fazemos.Uma conquista que, a ser concretizada, contribui para a diminuição do  número de pessoas que, nas empresas e outras organizações, apenas aí estão de "meio corpo" e não de "corpo inteiro".Funcionam mas não vivem....

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