domingo, 14 de outubro de 2012

A desigualdade não fica à porta da escola.

Pela primeira vez, desde que são divulgadas as classificações das escolas, vulgarmente conhecidas por rankings, foi possível cruzar os resultados dos exames nacionais com a origem social dos alunos, nomeadamente as condições socioeconómicas e a escolaridade dos pais. 
Curiosamente, os estudos publicados até então, concluem invariavelmente pela “supremacia das escolas privadas face às públicas”, que as escolas do litoral apresentam genericamente melhores indicadores que as do interior, como seria de esperar num país assimétrico e litoralizado, sendo ainda que os polos de Lisboa, Coimbra, Porto e Braga acolhem as escolas que genericamente melhores resultados evidenciam, que as escolas das regiões autónomas e do interior do país mostram mostram globalmente piores indicadores, etc. E assim foi este ano com as naturais excepções atribuídas ao esforço e competência dos professores e colaboração das famílias.
Por isso, parece-me claro que, para quem conhece minimamente o país educativo, estes dados são obviamente previsíveis.
Embora entenda que os dados relativos aos resultados dos alunos possam e devam ser tratados e divulgados, a minha questão é saber:
 “Qual o contributo significativo da organização e divulgação destes “rankings” para a melhoria da qualidade do sistema?”. 
Apesar de reconhecer algumas melhorias, são poucas as consequências ao nível de alteração de política educativa, sobretudo para as escolas com alunos com piores resultados.
Relembro, por exemplo, que o MEC definiu como critério de atribuição do crédito de horas para programas de apoio aos alunos, entre outras iniciativas, os resultados dos alunos ou seja, as melhores escolas terão mais horas para apoios e as que mais precisariam, são justamente as que menos terão. 
De acordo as palavras do Professor Joaquim Azevedo, publicadas no jornal Público, temos que contrariar a cultura de apoiar só as escolas com melhores resultados e encontrar formas de apoio e responsabilização para as escolas com alunos com piores resultados.
Sendo um defensor intransigente de uma cultura e prática de exigência, avaliação e qualidade, entendo  que  é preciso,  alertar  para as fragilidades e os efeitos perversos potenciados pelos rankings.
É reconhecido que existem escolas, privadas e públicas que recusam matrículas de alguns alunos para proteger a sua posição no ranking.

Concretamente aos resultados publicados, pelos mais diversos meios de comunicação, verificou-se o que há muito tempo venho referindo. Isto é, há fatores, sociais e económicos, entre outros, que influenciam os resultados escolares dos alunos.
Vivemos num país cheio de desigualdades e cada vez mais desequilibrado. O facto de todos os grupos sociais estarem na escola, sobretudo na pública, leva a que todos os problemas sociais se tornem problemas escolares.

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